Saturday, July 29, 2006


O Grande Evento

Sem dúvida o grande evento deste ano (e também de 2005) relacionado à cinefilia de cinema brasileiro no Rio de Janeiro é o curso de história do cinema brasileiro, agora em seus momentos finais, ministrado pelo prof. Hernani Heffner no Odeon-Br (o cinema mais subsidiado do mundo). Promovido pela galera do Cineclube Tela Brasilis (http://www.telabrasilis.blogspot.com) que também organizam mensalmente uma sessão de cinema brasileiro na Cinemateca do MAM, o curso foi um sucesso de público até surpreendente. Afinal, existe um preconceito enorme contra o cinema brasileiro, mesmo dentro dos cursos de graduação de cinema, o horário é bizarro (sábado de manhã) e o Hernani não é muito conhecido fora do mundinho do cinema. Mas a iniciativa deu muito certo e despertou, acredito em muita gente, vontade de conhecer um pouco mais sobre o nosso cinema, isso dentro da perspectiva historiográfica heterodoxa apresentada pelo Hernani, que busca romper com aquela visão desenhada pelos cinema-novistas de qual seriam os "cinemas de qualidade" realizados até hoje no Brasil. O curso, encerrando agora seu módulo II, não será mais repetido e pela sua amplitude e complexidade, é como aqueles planos de take único, que não podem ser repetidos numa filmagem. Resta ver o que será feito das fitas que foram gravadas contendo todas as aulas do curso. Quem se habilita a transcrevê-las?

Wednesday, July 26, 2006


Mostra Cinédia no Odeon

Esta semana o Odeon-BR, o cinema mais subsidiado do mundo, ofereceu uma atração interessante: dois filmes da Cinédia, aquele estúdio fundado pelo Adhemar Gonzaga para ser a Hollywood brasileira. Obviamente não conseguiu o intento mas o estúdio, bem ou mal, produziu por quase 40 anos e assinou sucessos de público como "Alô-Alô-Carnaval" e um dos maiores clássicos do nosso cinema, "Ganga-Bruta", à época mal-recebido mas que hoje tem o status que merece. Aliás o diretor de "Ganga-Bruta", Humberto Mauro, protagonizou a primeira biga célebre do nosso cinema, se desentendo com Adhemar Gonzafa e sendo demitido da Cinédia em 1934. Os filmes programados eram "Tereré Não Resolve" (1938), de Lulu de Barros, nosso mais prolífero diretor, e que, por problemas técnicos, acabou não sendo exibido, entrando em seu lugar "Lábios Sem Beijos" (1930), de Humberto Mauro, primeira produção da Cinédia. O filme é uma tola história de amor onde vemos a materialização das idéias que Gonzaga, roteirista do filme, defendia em "Cinearte": o cinema brasileiro deveria mostrar apenas o lado belo do país, sua modernidade, sua bela natureza e não a miséria e a fealdade do povo. Então vemos um filme que, como o próprio admite, poderia se passar em Londres, ou Paris, etc. Mauro dirige muito bem os atores e isso dá ao filme alguma sustentação, além de algumas angulações interessantes e do gosto de Mauro por tipos (rostos) marcantes mas é o título dele mais inferior dentre os que assistimos. Já "Romance Proibido"(1944), de Adhemar Gonzgaga, realizado em grande penúria durante os anos da segunda guerra, apesar dos cenários e figurinos luxuosos. O filme, uma boba história de amor entre duas amigas e um mesmo homem. Sua importancia é mesmo pelas mensagens que pretende transmitir, contra o analfabetismo e pelo cinema nacional, sendo esse um meio de educação também. De lamentável apenas a falta de público nas sessões em que comparecemos.

Tuesday, July 25, 2006




O Problema da Falta de Dinheiro

Esse aí atinge toda a sociedade brasileira, que não tem dinheiro para uma necessidade básica que é o entretenimento. O pouco que resta, quando se vai ao cinema, é gasto, pela enorme maioria da minoria da população que vai ao cinema hoje em dia em algum filme estrangeiro. Baseados no sistema à la carte das tvs a cabo, os multiplex oferecem uma farta gama de opções para quem não quer pensar no filme que vai assistir. O sujeito chega lá e escolhe o primeiro que vê pela frente, pela conveniência de horário ou temática, quase sempre preferindo qualquer coisa que não seja um filme brasileiro. Pela educação audiovisual poderíamos aliviar um pouco essa relação de preguiça mental da classe mérdia urbana nacional. Isso porque nos interioroes do nosso país o sujeito depende mesmo é da videolocadora que raramente vai ter um acervo menos imbecilizante, até porque, se o tiver, vai falir. Se o cara tiver uma grana maior e tal está salvo, pode descolar uma internet banda-larga e assistir uns filmes no e-mule e gravar seus DVDS. Ao menos vai saber quem foram Eisenstein e Glauber. Mas para que nossos filmes sejam viáveis é preciso aumentar o mercado consumidor interno, através de contínuo cresicmento do PIB e também obrigar a TV aberta a passar nossos filmes em horários decentes. Falta aquele negócio que estamos cansados de ouvir: "vontade política" ou, mais vulgarmente, falta de vergonha na cara.

Monday, July 24, 2006


O Problema da Boçalidade

Que a sociedade brasileira é recheada de boçalidade isso é fácil de perceber, como Sganzerla já havia detectado há 38 anos. Os motivos também são conhecidos de todos os que minimamente estudaram a história deste país, apesar de que, quando tivemos um intelectual na presidência do país a boçalidade só aumentou. Obviamente a boçalidade afeta o nosso cinema. Isso em todos os níveis. Desde a boçalidade nas relações entre os profissionais, regida pela lógica de "farinha pouca meu pirão primeiro" até a lógica interna daqueles que fazem cinema no Brasil e que são, muitas vezes, totalmente desconhecedores do cinema enquanto expressão artístic, se limitando meramente a operar um equipamento ou a fazer relações públicas para obterem verbas para seus projetos. Enquanto cinema no Brasil não for estudado a sério muitos de nossos filmes, atualmente subsidiados pelo governo, não terão a ousadia e conhecimento do que é cinema que já tivemos em Glauber, Sganzerla e ainda temos em Nelson Pereira e Beto Brant.

Os Propósitos do Blog

A idéia deste blog é escrever textos, com um leve caráter teórico, mas sem estarem presos às regras acadêmicas, sobre cinema brasileiro. Também pretendo colocar informações sobre eventos relacionados à área, assim como cursos, etc. Enfim, um canal de comunicação destinado somente ao cinema e audiovisual brasileiros.