Wednesday, August 23, 2006


Câncer (1968-1972)- Glauber Rocha

Em 1967 "A Margem", de Ozualdo Candeias, inaugura um estilo de filmes que ficou conhecido na historiografia do nosso cinema como "Cinema Marginal". Glauber Rocha não foi nada simpático a esse novo estilo, detonando clássicos como "O Bandido Da Luz Vermelha" (1968), Rogerio Sganzerla, acusando o filme de diluir a densidade de pensamento necessária a ser aplicada em um cinema brasileiro sério. Para Glauber, do alto de sua megalomania ou, se preferirmos, autoridade histórica, só haveria um verdadeiro filme""marginal" e esse seria o seu "Câncer", relaizado no beco-da-fome carioca em 1968 para testar o som direto magnético do Nagra, até então pouquíssimo usado no cinema brasileiro. Reunindo atores que participariam de "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", que logo começaria a ser filmado, Glauber montou esse laboratório de interpretação em 16mm que tem em Hugo Carvana a grande estrela, magistral nos trejeitos de um malandro-marginal carioca. O filme, além de Odete Lara e Antônio Pitanga, conta também com Helio Oiticica em sua primeira participação no cinema como "ator". Um elemento do filme que imediatamente chama a atenção e que até então estava ausente do cinema de Glauber é o humor. O filme tem cenas MUITO engraçadas, como o diálogo do casal Carvana e Lara discutindo a relação. Glauber aproveitou na momtagem final do filme, feita em 1972, até problemas técnicos como a falta de sincronia do gravador e da câmera, corrigida deixando a voz dos atores mais "lenta", como num disco tocado na rotação errada. Filmado pouco antes do AI-5 "Câncer"já é uma espécie de prenúncio do período de trevas que passaríamos logo a viver no Brasil e do qual ate hoje não nos recuperamos plenamente. É também um alívio interessante do tipo de cinema que Glauber fazia e continuaria a fazer, sua ínica obra "marginal". Talvez se tivesse se permitido fazer mais filmes assim estaria vivo até hoje.

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